Hoje vou falar sobre um problema que estou passando e que com certeza pode estar ocorrendo com grande número de leitores. O problema de falta de dinheiro nas empresas. Muitas vezes uma empresa é rentável, poderia viver tranquilamente com o lucro que tem, mas acaba fechando as portas por não poder pagar suas contas. Quantas empresas você conhece com esse problema?
O que é fluxo de caixa?
Antes de mais nada, vamos começar explicando o que é esse tal de fluxo de caixa.
Quando você vende um produto, seu cliente normalmente pede alguns dias ou faz o pagamento usando um meio de pagamento como um cartão de débito ou crédito ou mesmo sites como o mercado pago, pag seguro, paypall, dentre outros.
Todos esses meios de pagamento levam alguns dias para processar o pagamento, usar o dinheiro um pouquinho e só depois liberar para você receber. Pode ser apenas alguns dias como o débito, que leva 7 dias ou levar mais tempo, como os cartões de crédito que levam 30 dias. Isso varia de operadora para operadora.
Mas assim que seu cliente passa o tal cartão, ou boleto, se sente no direito de te pressionar com a produção. Você não pode levar mais de 30 dias para entregar o produto, senão o cliente desfaz o negócio e você tem que devolver o dinheiro integralmente para ele, antes mesmo de receber o que ele pagou.
Se o produto é produzido por você mesmo, normalmente terá que manter um pequeno (ou grande) estoque para atender o cliente. Se terceiriza a produção, você terá que pagar antecipado ou no pior caso, quando receber a mercadoria. Raramente o seu fornecedor vai te dar prazo. Quando você estoca, consegue algo em torno de 21 dias, mas como o estoque fica esperando a chegada do cliente na loja, acabam-se os 21 dias e ainda não usou aquela mercadoria.
O fluxo de caixa é exatamente o dinheiro necessário para manter a empresa nesse período que vai do pedido até o recebimento do dinheiro.
Como calcular esse fluxo!
O cálculo do valor necessário para cobrir o fluxo de caixa não é tão simples de calcular. Existem muitas variáveis no processo. Os pagamentos podem ser a vista, levar 7 dias, ou mesmo 30 dias. E você não tem nenhum controle sobre como seus clientes irão pagar no ato da compra.
Vou passar o meu caso genérico para você adaptar ao seu caso.
No meu caso, 100% das vendas são feitas no Mercado Livre. Ele quase que força o comprador a usar o meio de pagamento deles, chamado Mercado Pago. O mercado pago leva 21 dias para liberar o dinheiro e mais 3 dias para colocar em sua conta, ou seja, 24 dias. Existem variáveis como o cliente depositar em dinheiro na minha conta, ou qualificar bem rápido, liberando antecipadamente o dinheiro. Mas não é raro o indivíduo receber a mercadoria e esquecer de qualificar, mesmo recebendo lembretes diários pedindo para fazer isso.
Minha produção é bem rápida. Cerca de 1 a 2 dias fazendo arte e 1 dia produzindo. No terceiro dia já está postado para o cliente e pode levar de 1 dia a 24 dias dependendo do tipo de frete e local do cliente.
Na pior situação, leva-se os 24 dias no processo todo.
Digamos que minha empresa precise de R$ 5 mil para sobreviver (aqui entra a realidade de cada um), ou seja, no período do ‘giro” preciso ter R$ 4.000 (5.000/30×24) de lucro. Ou seja, cerca de R$ 167 diários.
O preço de venda do meu produto é calculado colocando 1,5 x o meu custo (isso também varia caso a caso). Ou seja, 0,5 de lucro, que será o número que usaremos.
O meu custo para produzir os produtos diário será de R$ 334 (167/0,5).
Por dia precisamos cobrir o custo e nossas contas da empresa (salários inclusive), ou seja, R$ 501 (334+167)… ou seja, no período que o dinheiro fica preso precisaríamos de R$ 12.024 (501 x 24)… esse é o dinheiro do fluxo de caixa “máximo”.
Você tem esse dinheiro? Nem eu!!!
A outra realidade!
Nas contas acima, falamos de capital de giro “máximo”. Na vida real nós temos uma pequena folga. As vezes o cliente nos ajuda pagando em espécie ou qualificando mais rápido. Além disso o fornecedor pode nos deixar pagar somente ao receber o produto.
Isso também acontece na minha realidade. Com isso temos menos 3 dias do processo produtivo e como a maioria das vendas vai para Rio e São Paulo, que graças a Deus, me qualificam rápido, fico com um fluxo de cerca de 7 dias entre o pagamento e recebimento.
Voltando as contas, temos um fluxo de caixa de R$ 3500 (501 x 7) para sustentar a empresa.
Bem melhor, dá para funcionar, mas ainda é problema para quem começa do zero.
O problema de crescer rápido!
Uma das coisas que provoca muita quebra na empresa é o rápido crescimento.
Digamos que uma empresinha só vendia cartões e estava ajustada a essa realidade. De repente, aparece uma venda de pastas ou outro produto muito caro.
Então, naquele momento, há uma súbita necessidade de aumento brutal no fluxo de caixa. As pessoas nem percebem, mas podem estar se condenando a um grande aperto financeiro ao pegar esse serviço.
Muitas vezes você gasta todos os seus recursos para produzir esse produto e leva tanto tempo no recebimento que paralisa as atividades até o recebimento… nesse meio tempo pode quebrar.
Ao invés de recusar um serviço, pode vir a recusar uma centena.
Tome muito cuidado ao pegar um serviço muito grande sem estar “calçado” para execução dele!
Quedas abruptas nas vendas
Outro grande problema são as quedas abruptas nas vendas. Por algum motivo abaixam as vendas e você começa a consumir os recursos do seu fluxo de caixa.
O perigo não vem exatamente da baixa e sim da volta ao normal. Você leva algum tempo para ajustar o seu fluxo e manter ele crescendo pouco a pouco. Quando baixam as vendas, você precisa voltar a vender de modo moderado, senão vai cair exatamente no caso acima.
A empresa precisa de estabilidade, sem grandes baixas e sem grandes aumentos. Uma empresa saudável mantem um crescimento constante, compatível com a parcela de lucro que pode ser adicionada ao fluxo.
Você ouviu bem… uma parcela de seu lucro deve ser adicionada ao capital de giro de modo a permitir o crescimento da empresa.
Em resumo, se você consome recursos do capital de giro você diminue as possibilidades da empresa. Se você adiciona recursos ao capital de giro você cresce as possibilidades da empresa.
Como minimizar os problemas
Existem várias maneiras de reduzir a necessidade de capital de giro.
A primeira, muito usada pelas gráficas antigas, era pegar um sinal que cobrisse as despesas. Se o produto te custa R$ 100 o preço de venda é de R$ 200, sendo o sinal R$ 100 e o restante negociável com o cliente.
É muito bonito, mas a concorrência feroz está cada vez mais acabando com isso. A chegada do cartão de crédito deu uma punhalada nos comerciantes, que mesmo recebendo o sinal acabam tendo que esperar os 30 dias.
Mas você pode tentar essa estratégia.
Outra estratégia é a antecipação premiada. Ela consiste em dar desconto para o pagamento a vista. Essa é uma estratégia que esbarra as vezes em questões legais. Parece que os bancos tem nossos congressistas nas mãos e criou leis que impedem isso. Essa regra cai e volta de tempos em tempos. Mas vale a pena tentar.
Eu acabei de ser punido no mercado livre por escrever no anuncio que dou 5% desconto para quem pagar por depósito bancário… isso só para vocês verem como os “bancos” agem contra o comerciante.
E outra estratégia é correr!!! Se há possibilidade de receber antecipado ou “lerdar”, quando não há essa possibilidade. Diminuindo o tempo entre as receitas e despesas, diminui a necessidade de fluxo de caixa.
Outra possibilidade é usar os meios de pagamento a seu favor! Ao invés de produzir em 1 dia, coloque que produz em 4 dias. Com isso ao invés de rodar num distribuidor próximo que você pague a vista, pode optar por uma AtualCard, ZapGráfica ou Futura da vida e parcelar o seu pedido em até 6 vezes no cartão. O valor que você paga é o mesmo, mas como vai ganhar o período até a fatura e mais as parcelas, vai dar para formar um colchão de segurança usando os recursos do cartão.
Mas atenção! Essa é uma estratégia ARRISCADA pois exige de você CONTROLE em segurar o dinheiro para realmente quitar a fatura do cartão no dia correto, senão você entra em outra enrascada.
Com essa estratégia você joga praticamente o valor do seu limite de cartão, direto para seu fluxo de caixa… não pode virar cinema, compras, IPhones, etc… tem que virar fluxo de caixa!
Finalizando
Eu podia falar muito mais de fluxo de caixa, e entrar mais a fundo, como é dado nos cursos de administração ou ciências contábeis.
Mas esse não era o meu objetivo!
Eu procurei nesse artigo apenas tocar no assunto da necessidade de ter esse recurso disponível e da grande importância dele.
Muitos de nós começamos sem capital algum ou com um capital reduzido, que parece muito, mas muitas vezes nem cobre o valor do fluxo de caixa para a retirada que desejamos fazer. Com isso, fique alerta ao abrir uma empresa e não gaste tudo em instalações e equipamentos.
Ter uma pequena mesa e telefone, com um micro básico e garantir um bom fluxo de caixa vai te dar mais resultado do que torrar toda a grana em equipamentos antes de começar a vender.
As compras devem ficar para um segundo plano! Fluxo de caixa primeiro!
Espero que tenham gostado desse artigo!
Não deixem de desabafar seus problemas aqui em baixo nos comentários… isso pode ajudar muito os demais leitores e quem sabe não aparece uma idéia para te tirar do sufoco!
Eu estou nesse sufoco!!! E não quero isso para ninguém!!!
Por falar nisso, não quer aproveitar e fazer o curso de administração contábil e financeira nele se fala sobre fluxo de caixa de modo bem mais completo.
Um grande abraço a todos!
O controle de receitas e despesas tem que ser feito com extrema atenção e foco para que o dinheiro não seja desviado para outros gastos, apesar dos riscos tenho conseguido sobreviver comprando parcelado na Zap Gráfica.
Aloísio,
Eu também faço caixa sempre que posso com o parcelamento de cartão.
Equilibrar as contas quando se começa do zero não é uma coisa fácil. As despesas pessoais são um grande vilão, que não temos como evitar, mas que muitas vezes acabam com a empresa antes dela conseguir crescer.
Se você está começando do zero, consegue esperar o tempo de chegada dos produtos, e tem crédito em cartão fácil, parcelar nessas empresas pode ser uma grande saída, pois muitas vezes parcelamos em 3 a 6 x sem juros… esse pode ser o tempo para fazer o dinheiro do fluxo.
Mas mantenha uma planilha bem estruturada para controlar esses gastos para o problema não se acumular mais adiante. Essa medida deve vir acompanhada de cortes extremos nos seus gastos pessoais até que haja o equilibrio.
Lembre-se: Você só pode gastar o que realmente lucra… ou seja: preço de venda – custo do produto = lucro bruto – despesas da empresa = lucro líquido (é o que se pode gastar na vida pessoal).
Boa sorte para vocês.
Abraços,