Estudar ou não estudar? Eis a questão!

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A alguns meses escrevi um post sobre as diferenças entre designer e arte finalistas, que me gerou uma série de comentários a favor e contra meu raciocínio. Neste artigo irei abordar a importância ou não de uma educação formal. Não deixe de acompanhar este post.

Tipos de profissionais

arte final ou design?Embora a área gráfica tenha centenas (senão milhares) de anos, a área de editoração gráfica é relativamente recente. O mercado tem se dividido informalmente na área de design e na área de arte finalistas. Sinto isto ao ver meus comentários nos blogs na área de design sendo excluídos e ao ver o tipo de comentário que minhas postagens atraem quando entro no assunto.

Se olharmos o mercado, temos profissionais sem nenhum tipo de instrução formal (autodidatas), pessoas com cursos básicos rápidos (muitos via internet), pessoas com cursos técnicos completos, e ainda pessoas que possuem nível universitário (ou pós-graduados na área).

Além disso, podemos dividir estes profissionais por tempo de carreira na área, indo de iniciantes à profissionais com anos de mercado.

No mercado gráfico ainda existem profissionais que tem conhecimento de processo gráfico, de design e de utilização de softwares.

A combinação destes fatores pode definir uma infinidade de perfis profissionais, muito mais ampla do que citado no meu antigo post, que era bastante genérico.

Apenas para ilustrar, sou um profissional com 17 anos de mercado gráfico, autodidata na área gráfica, com conhecimentos intermediários na utilização de softwares gráficos, bom conhecedor de processos gráficos (conhecimentos básicos de muitos processos), básico na área de design. Somado a isto tenho meu diferencial na área administrativa, onde tenho formação a nível superior.

E você? Qual o seu perfil? Aproveite este momento para refletir como é o seu conhecimento! Isto vai te ajudar nas etapas seguintes!

Autodidata: Aprendendo a nadar sozinho!
Autodidata: Aprendendo a nadar sozinho!

O valor do autodidata

Muitos profissionais da minha época são autodidatas. Nós aprendemos a nadar sozinhos! Há muitos anos atrás, não haviam cursos na área. A internet ainda não existia e os livros eram raríssimos e muitos apenas em inglês. Por isso o mercado pedia profissionais e eles não existiam. Os únicos profissionais do mercado trabalhavam ou manualmente, a nanquim e fotografia ou se embrenhavam nos primeiros micros da época, trabalhando as imagens em pixels. Estou falando numa época pré-corel ou pré-photoshop. Vocês podem imaginar como eram feitos os livros e revistas antigamente?

Tanto eu como alguns de meus leitores são dessa época. Eu já vi pessoas pegando fotos coloridas e usando filtros de cor para gerar cromos monocromáticos nas cores básicas, para daí aplicar retículas nos vários ângulos da cromia. Tudo feito através de revelação fotográfica.

As pessoas desta época que não aprenderam a usar o computador acabaram por perder o mercado e seus empregos, pois a informática acabou com este tipo de profissional.

Os autodidatas ainda continuam por aí. Hoje amparados pela internet, que democratiza o conhecimento. Como no caso de nosso escritor Liute Cristian, que se tornou um grande profissional usando estes recursos.

Mas onde falha o autodidatismo? Falha na área de relacionamento. Muitas vezes o material que conseguimos para estudar é mal escrito e mal detalhado. Com isso, muitas vezes, nos deparamos com uma situação que não conseguimos avançar procurando a maneira de fazer determinado procedimento e falhamos. Muitas vezes são coisas simples, que quem explicou não deu o devido valor ao escrever e se torna um grande obstáculo para quem está lendo. Passei por isto ao aprender serigrafia… emperrei por muitos anos, até que visitei um local que fazia a gravação das telas e compreendi como era feira a abertura dos poros… simples, porém difícil de explicar.

Outra falha é também na rede de relacionamentos. Quando aprendemos sozinhos, ficamos com nosso conhecimento “ilhado” e muitas vezes acabamos por parar de nos desenvolver. Nossa rede de relações fica restrita a pessoas fora do meio gráfico e isto dificulta muito o crescimento profissional.

Você que é autodidata, concorda com isto?

Cursos rápidos e não tão rápidos assim!

Sentindo a falha no mercado, começaram a surgir uma infinidade de cursos na área.

Estes cursos, muitas vezes, eram ministrados por pessoas mal preparadas, com o intuito apenas de aproveitar o nicho criado. Como fala o provérbio: “em terra de cego, quem tem um olho é rei!”

Com isso, muitos profissionais que fizeram estes cursos, e estacionaram, se consideram grandes profissionais e não o são. Alguns, sentiram esta deficiência e começaram a trilhar um caminho mais profundo, através do autodidatismo ou cursos mais completos e estão se dando bem no mercado.

Existem também cursos sérios, ministrados por profissionais capacitados,  geralmente associados a instituições sólidas como SENAI e SENAC, ou mesmo cursos técnicos profissionalizantes separados em módulos com duração longa (1 a 2 anos). Estes cursos já capacitam melhor os profissionais.

Cursos: Aprendendo fácil o caminho certo!
Cursos: Aprendendo fácil o caminho certo!

Mas um curso basta?

Claro que não! O perfil do aluno também conta muito. Existem alunos sérios, que querem aprender e existem aqueles que querem apenas tirar o certificado. Ter o curso não é garantia de ser um bom profissional. O bom profissional geralmente tem o curso, muito esforço e muito tempo de mercado. Não existe bom profissional recém-saído do curso. O mercado é que vai polir o profissional.

E qual a vantagem de fazer um curso?

As principais vantagens são as seguintes:

  1. O ensino é estruturado. Aprende-se de tudo e não apenas aquilo que imaginamos precisar. Isto diferencia o autodidata, que aprende apenas aquilo que vem a precisar, daqueles que fazem o curso, que são apresentados a toda a estrutura da matéria.
  2. Formação de rede de relacionamentos. Como os cursos tem vários alunos voltados para a mesma área, você tem oportunidade de iniciar sua rede de relacionamentos de maneira natural. Isto vem a fazer diferença mais para a frente, pois muita portas começam a abrir.
  3. O “pulo do gato”! tendo um professor, coisas que o autodidata emperraria, são aprendidas de maneira natural e fácil, por observação do instrutor.
  4. Aprender a dar importância ao estudo. Mais do que aprender a matéria ministrada, aprende-se a aprender continuamente. Num mercado em contínua mudança como o nosso, o aprendizado contínuo se torna uma obrigação para os profissionais. A punição para quem não o faz? Pergunte aos tipógrafos e ao pessoal do fotolito? Se encontrar eles, pois foram extintos do mercado. E o pessoal do Pagemaker e de outros editores que não existem mais? Quem não se renova sucumbi.

Nível universitário ou pós

Se um curso de um ano trás vantagens, o que não dizer de um curso de 3 a 5 anos?

É claro que o perfil do aluno vai contar muito e que o mercado vai ter que lapidar o profissional. Mas em termos de conhecimento técnico, não há coisa melhor.

Tiro por mim, com minha experiência em administração.

Mesmo um profissional autodidata, tarimbado no mercado, ao fazer um curso superior, acontece o seguinte processo:

  1. Através do curso, o profissional tem o prazer de ver seu conhecimento mal estruturado, ganhar estruturação (ordem). Colocamos em ordem aquilo que já conhecemos e neste processo começamos a ver as várias brechas não preenchidas deste conhecimento. Aprendemos muito, talvez mais do que as pessoas sem vivência de mercado.
  2. Rede de relacionamentos. Sim, embora sejamos conhecidos no mercado, existem muitas pessoas que tem uma má visão de nosso serviço por não termos uma formação tradicional. Com o curso ganhamos respeito no mercado e conosco mesmo. E os novos colegas de turma, vem a formar uma excelente rede de relacionamentos para o futuro, seja como oportunidades de trabalho, seja como futuros bons funcionários a contratar. As vantagens são infinitas.
  3. Conhecimentos em áreas não exploradas. Você se acha perfeito? Sabe administrar o seu negócio, usar todos os programas, usara todos os equipamentos, e tem noções excelentes de design e de outras áreas como internet e indústria? Certamente não! Terão áreas abordadas no curso que serão totalmente novas para você e se souber aproveitar, podem ser nichos a serem preenchidos no futuro por você.
  4. Caso você não seja autodidata. Minha sugestão é iniciar antes ou junto do curso universitário, um ou mais cursos básicos. Assim você sentirá mais rapidamente o mercado e saberá se é isto mesmo que quer para sua carreira. As vantagens citadas no curso técnico valem também para o curso superior, só que ampliadas devido a duração do curso. Amizades de 4 anos são mais firmes que amizades de meses. Conhecimentos de 4 anos são mais profundos que os de meses.
Processo gráfico
Processo gráfico

Design, programas ou processo?

Não importa o curso feito!

Temos que atentar que o mercado gráfico é composto por estes 3 profissionais, que muitas vezes se fundem num só. Você deve ter conhecimentos básicos das 3 áreas, mesmo que se aprofunde em uma delas. Não há área mais importante. Umas demandam mais conhecimento formal, outras, mais conhecimento prático. Dê valor a ambas!

Na internet encontramos muitos blogs de design. O design é muito maior que apenas a área gráfica. Posso afirmar que design vai da área gráfica até a área de propaganda, administração, marketing, desenho industrial, embalagens e muitas outras. Devido a isto, torna-se muito importante a formação superior, pois sem ela passamos a chamar de design apenas uma pequena porção do mesmo.

A área de softwares é também bem explorada na internet, principalmente no youtube. Aqui cabe lembrar que os cursos ajudam a aprender o básico, por isso são muito importantes, mas o contínuo aprendizado se mostra uma necessidade básica do mercado, dada a grande atualização de programas.

A área de processo gráfico é a menos explorada da internet. Os blogs da área são poucos e muitos são mantidos por gráficas, voltados para a área em que atuam. A Wikipédia tem bastante coisa sobre o assunto, mas não passamos muito disso. Este é o principal nicho que atuamos e ainda temos muito a fazer aqui no blog. Nesta área o mais importante é a vivência prática. É bom darmos valor aos bons impressores, que se preocupam com o sentido da fibra do papel na hora de comprar e cortar o papel. Na qualidade da tinta, nos produtos a serem misturados na água e na tinta, uso de secantes, na calibração da máquina e em todos os detalhes técnicos, muitos dos quais,  nunca citei neste blog. Não é porque o profissional tem apenas o primeiro grau e mal sabe escrever, que não é um bom profissional gráfico. O tempo e a vontade de aprender contam muito. Você é um profissional destes? Acha nossos artigos muito superficiais? Escreva também para a gente!

Conclusão!

A área gráfica é muito grande e é sem dúvida uma das mais antigas profissões que se tem notícia.

O mercado agrupa profissionais com diversos níveis de instrução e de conhecimento prático.

Espero com este post, ter tirado um pouco as ideias de segregação existentes na área, e que os diversos profissionais passem a valorizar mais as demais profissões, o tipo de conhecimento necessário (formal ou prático) e entendam que o contínuo desenvolvimento é uma necessidade de mercado.

Se você já acha que sabe tudo, cuidado! Você é um sério candidato a desaparecer do mercado!

E um lembrete: O comentários são um post a parte! Faça o seu comentário e marque a opção acompanhar por email. Você vai ficar impressionado com a qualidade dos comentários que aparecem aos longos dos anos (um post dura anos, através do tráfego orgânico). É com certeza uma grande fonte de pesquisa.

Um abraço a todos,

Até o próximo post.

6 COMENTÁRIOS

  1. Oi Luis Paulo,tudo bom? Não sabia que vc estava nesse ramo não.

    Complementando o que nós 2 já falamos,ainda tenho a dizer que nenhuma pessoa formada para de estudar.NENHUMA. Não importa se vc tem diploma e exerce a profissão há 2,5 ou 20 anos. Vc vai ter que continuar no caminho dos estudos,pois o mundo não parou de mudar na época em que vc saiu da faculdade. Idem para autodidatas,que mesmo manjando superbem do seu negócio (seja ele qual for), vai ter que se atualizar e muito, para driblar a concorrência e se manter no mercado.NINGUÉM escapa do estudo contínuo.

    Abraços!

  2. “Outra falha é também na rede de relacionamentos. Quando aprendemos sozinhos, ficamos com nosso conhecimento “ilhado” e muitas vezes acabamos por parar de nos desenvolver. Nossa rede de relações fica restrita a pessoas fora do meio gráfico e isto dificulta muito o crescimento profissional.”

    Esse é o principal argumento que eu uso para quem é autodidata. E pra qualquer área,não é só pra área de Design não.
    Apenas complementando: eu não desvalorizo quem seja autodidata (confesso que láaaaaa atrás,no passado,eu fazia isso), realmente acho que só diploma não faz um bom profissional.Mas vivência em AMBOS OS AMBIENTES (mercado e uma universidade), lapidam MUITO melhor um bom profissional. Quem for autodidata, e em seguida entrar pra uma faculdade boa, de renome,vai sentir uma tremenda diferença.Existem conceitos,propostas,livros,pessoas e ideias que provavelmente o autodidata não viu durante sua caminhada solitária – e que são fundamentais para mais trabalhos,agora num nível diferenciado,destacável,passarem a surgir.

    Darei um exemplo bem bobo, mas pra vcs terem uma ideia de como eu enxergo isso: eu leio desde meus 12 anos livros de auto-ajuda.Pegava emprestado na época em que ainda era menor de idade,depois de começar a trabalhar eu comprei um monte deles. Resumo da história: durante esse tempo, eu conheci trocentas pessoas, muitas delas viraram amigos/as confidentes,me traziam problemas e me pediam conselhos. Muitos deles confessaram a mim que o psicologo ou terapeuta ficaram “no chinelo”,quando ouviram as coisas que eu dizia. Já me disseram q eu daria uma excelente psicóloga,pois eu dizia exatamente o que eles precisavam ouvir,e teve já relatos de pessoas q mudaram alguma postura viciante por causa dos meus conselhos.Já fui moderadora de 2 fóruns que lidavam com questões da área -e nisso,vieram mais relatos,mais amizades se formaram e mais conselhos foram dados,e (graças a Deus) muitos elogios tbem vieram até a minha cx. postal. Nunca tive meu filme queimado.

    Se psicólogo dispensasse diploma,será que eu seria mesmo considerada, por unanimidade, alguém destacável no mercado? Não acho não…porque problemas considerados mais sérios eu não sei tratar.Não me sinto apta a ponto de ,por exemplo, fazer um amigo que é drogado parar o vício.Ou uma criança,filha de grandes amigos meus, parar de roer unhas,ou parar de arrancar o cabelo. Eu não me consideraria completa, mesmo com os elogios e com a caminhada de mais de 20 anos em leituras de autores renomados. Não bastariam, pra mim,só os milhares de livros (e depois,sites) que já li para eu me sentir “a tal”, com garantias de carreira consolidada.

    Sei que foi um exemplo que é bem distante da área de Design,e muitos irão achar q eu viajei,pois Design não lida com saúde e se for feito errado não vai prejudicar a ninguém. Olha,digo pra quem pensar isso,que é um ledo engano… faça uma sinalização errada num Hospital e vc verá quantas tragédias podem acontecem em decorrência disso, quando aparecer um caso de emergência onde a pessoa está nas últimas. Sinalize errado a placa de um banheiro público num lugar deserto.O que vc acha que irá ter como consequência desses exemplos? E esses foram só os que eu lembrei…tem mais deles. Outros não vão prejudicar a saúde física e mental,diretamente falando,mas irão queimar por exemplo o filme da sua empresa,a ponto de vê-la receber comentários depreciativos,sem a pessoa nunca ter posto os pés do escritório da empresa em questão.Então,aí prejudicou a saúde financeira do negócio! 😉

    Abraços!

    • Muito bem colocado Anna.
      É necessário trilhar pelos dois caminhos para ser um bom profissional.
      É preciso ter a vontade de aprender sozinho, típica dos autodidatas e também ter a organização que se aprende na vivencia universitária (ou cursos).
      É este conjunto que forma o bom profissional e somente quem passou pelos dois mundos é capaz de dar o devido valor as duas vivências.
      Muito obrigado pelo seu comentário. Eu também uso muito exemplos em outras áreas para explicar as coisas. Vivo trazendo exemplos de gráfica e de administração para o meu curso de gestão de restaurantes (hoje eu trabalho numa rede de restaurantes, sabiam?)

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